Bilhete da Carreira

Bilhete da Carreira

quarta-feira, 16 de abril de 2014

CAIR COM ESTILO


Há algo de cómico nas quedas nos autocarros que produzem um entretenimento diário de qualidade.

O momento critico parece ser  à saída. Todos nós já assistimos ao típico "entalar da velhota na porta de trás" enquanto os passageiros gritam em pânico "ó chefe abra a porta...olhe que mata a velha"!

A verdade é que as portas automáticas e os degraus podem ser um obstáculo difícil... Mas o mais complicado é manter o equilíbrio depois de passar  pelo típico grupo de miúdos da C+S, com os telemóveis em alta voz, a tocar o mais recente hit do Anselmo Ralph e que insistem em aglomerar-se à saída, como se aquilo fosse a porta de um bar em Santos.

E quando as carreiras têm duas portas de saída é show a dobrar. Todos os dias no "lagarta" para o Sr. Roubado imagino o que seria um rebolar sincronizado de idosas, crianças ou miúdas pirosas de mini saia...pelas escadas abaixo. Para quê ir ao Cirque du Soleil quando se tem esta qualidade acrobática à distância de um picar de passe.

E por falar em miúdas pirosas de mini saia...porque será que me lembrei disto hoje? :)



terça-feira, 18 de março de 2014

A carreira e o avião


Nunca na carreira se falou tanto de outro meio de transporte. Nem quando o Costa Concórdia naufragou após o capitão "dar à sola de mansinho" o povo estava tão inquieto.
O "avião da Malásia", como é chamado o Boing 777 da Malaysia Airlines que desapareceu no dia 8 de Março, é o tema do momento.  Disso não há dúvidas!

Paralelamente a todas as autoridades mundiais e especialistas, super especializados, nas várias especialidades que podem ajudar a seleccionar este mistério, o povo também tem feito a sua análise. 
Como boa ouvinte que sou, aqui vos relato as principais teorias: 

A teoria da Coreia
"Isto do avião foi de certeza o gajo da Coreia, aquele que matou o tio e o deu aos cães. Ele era maluquinho para isso. Ou para meter medo ou para ficar com o avião"

A teoria do Buraco Negro
Para mim aquilo é tipo Lost. Eles entraram num buraco negro para uma realidade paralela e neste momento estão perdidos. Então com tantos radares e tanta tecnologia, como é que um avião tão grande desaparece assim?"

A teoria dos telemóveis que tocam
"Aquilo foi sequestro! Eles estão escondidos no meio da selva à espera do melhor momento para contactarem as autoridades. Até já ouvi dizer que construíram um aeroporto lá no meio, para o avião aterrar e que os telefones das pessoas ainda tocam...

"Mas haverá algum telefone que aguente tanta bateria?"

" Se calhar levaram carregador"

"E achas que se estivesses a ser sequestrado te importavas em carregar o telemóvel? Dahhh" 

"Sei lá é só uma teoria..."  Qual é a sua?

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cocó, xixi e caca em geral

Não é o assunto mais digno para discutir num blog, mas é um assunto importante!
Pelo menos para a D. Marília, que é minha vizinha do 4 º andar e passageira assídua da carreira.

- Já não posso com os presentinhos deixados no passeio - reclama - a minha porta mais parece uma pista de obstáculos. Era pegar naquilo e deixar os cocozinhos na caixa do correio dos donos dos cãezinhos.

A utilização de diminutivos é propositado. Sempre que, na carreira, se fala de assuntos do foro pessoal, como seja o cocó ou...sexo, há que utilizar expressões que amenizem a vergonha. Dizer cocozinho é como dizer coisinha, se é que me faço entender.

Voltando à D. Marília:

- É como aquela Gorete que vive por cima da mercearia. Todos os dias passeia os três canitos mesmo por baixo da minha janela. É que para além do cocozinho, tenho que levar com os cães a ladrar, logo de manhã. Mas será que eu fiz mal a alguém? Mas quem é que consegue viver com três cães em casa? Deus me livre!

A conversa vai inevitavelmente ter à nova lei dos cães e gatos. A única coisa que consolada a minha vizinha Marília é que "o governo agora está a por mão nisto".

Fiquei a matutar nas frase e de facto... este governo só se mete mesmo em assunto de caca.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Vou fazer bacalhau!

Estou cansada - pensei eu, quando me sentei no banco da frente da carreira vazia, a caminho de casa.
Estou mesmo cansada - continuei -  Trabalhei, fui ao ginásio e agora ainda vou chegar a casa e fazer o jantar Que seca! Ser mulher é difícil. Mas porque é que eu não tenho empregada, porque é que não eu sou rica, mas porque é que eu não ganho o EUROMILHÕES. Grrrrr, bahhhh, Quero ir jantar fora!

Todos os dias o pensamento se repete. A volta da carreira é lugar de lamurias introspectivas e eu sou especialista na construção de grandes dramas silenciosos.

Duas paragens passaram e a carreira continua sem pio de conversas. Ninguém chocado com a nova lei dos cães e gatos, ninguém com uma actualização na novela Barbara-Carrilho, nem um comentário sobre o Tierry ter abandonado a casa. Nada.

Na paragem seguinte duas senhoras entraram e puseram-se à conversa.
Pus-me à escuta:
- Fui ali buscar um franguinho. Hoje não me apetece cozinhar. Entrei às 05h30 e só agora vou para casa. Os pequenos que façam um arrozito e ficamos bem.

Engoli em seco. Eram 21h00...

A conversa continua:
- Amanhã só entro às 12h, mas de manhã vou limpar uma escada, que a minha comadre me arranjou lá para os lados de Caneças. Lá para as 8h já lá estou.

A conversa continuou ainda por mais duas ou três paragens. O tom não era de tristeza. Eram apenas duas amigas a contar como tinha sido o seu dia. O trabalho e a luta é a vida que conhecem e nela não há lugar para cansaços.

Chegou a hora de sair. Toquei no stop e pensei - vou fazer bacalhau!

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Vai partir naquela estrada..

Autocarro, camioneta, carro, tanto faz! Nunca percebi porque as pessoas usam phones nas viagens de autocarro.  Querem mais entretenimento do que uma dose diária de realidade?
Para mim a carreira sempre foi um local para ouvir ou fazer conversa. Cusquice com um toque de estudo sociológico, ou pelo menos é assim que gosto de pensar.
Em criança, no 81 para os Olivais, costumava escutar atentamente a minha mãe e as vizinhas na discussão de um tema recorrente - a vida alheia.
"O Jaquim, marido da Maria Francisca foi trabalhar para França. Ela é que está bem, não tem o marido para a cansar, pode andar na boa-vai-ela  Lá na terra fala-se que ganha 500 contos. Bem bom!"
A conversa hoje teria certamente de envolver outras descrições. O Joaquim agora já ganha em € e da Maria Francisca saberíamos em que se anda a cansar, se não com o marido, através das fotos que coloca no facebook e que claro, seriam comentadas na carreira, pelas vizinhas, invejosas.
No tempo de escola, o autocarro ganhou outra dimensão. Passou a ser o espaço para encontros entre pares. Nos bancos de trás, claro, os fixes, os populares ou os dreads (ainda se usa esta palavra?).
Nessa altura, passei de ouvinte a protagonista das mais incríveis conversas e dissertações próprias da idade: as saídas, os rapazes, aquela gaja que tem a mania. Ai cala-te boca!
Calou-se a boca mas abriram-se os ouvidos. Ficou-me o hábito, como em criança, de ouvir as conversas de autocarro. Conversas que se fiam a uns e a outros, sobre isto ou aquilo, apenas para passar o tempo entre a paragem e o destino, mas que representam um pouco da vida de cada um e de todos nós.
Que tal comprar o bilhete da carreira. Ela está quase a partir!