Autocarro, camioneta, carro, tanto faz! Nunca percebi porque as pessoas usam phones nas viagens de autocarro. Querem mais entretenimento do que uma dose diária de realidade?
Para mim a carreira sempre foi um local para ouvir ou fazer conversa. Cusquice com um toque de estudo sociológico, ou pelo menos é assim que gosto de pensar.
Em criança, no 81 para os Olivais, costumava escutar atentamente a minha mãe e as vizinhas na discussão de um tema recorrente - a vida alheia.
"O Jaquim, marido da Maria Francisca foi trabalhar para França. Ela é que está bem, não tem o marido para a cansar, pode andar na boa-vai-ela Lá na terra fala-se que ganha 500 contos. Bem bom!"
A conversa hoje teria certamente de envolver outras descrições. O Joaquim agora já ganha em € e da Maria Francisca saberíamos em que se anda a cansar, se não com o marido, através das fotos que coloca no facebook e que claro, seriam comentadas na carreira, pelas vizinhas, invejosas.
No tempo de escola, o autocarro ganhou outra dimensão. Passou a ser o espaço para encontros entre pares. Nos bancos de trás, claro, os fixes, os populares ou os dreads (ainda se usa esta palavra?).
Nessa altura, passei de ouvinte a protagonista das mais incríveis conversas e dissertações próprias da idade: as saídas, os rapazes, aquela gaja que tem a mania. Ai cala-te boca!
Calou-se a boca mas abriram-se os ouvidos. Ficou-me o hábito, como em criança, de ouvir as conversas de autocarro. Conversas que se fiam a uns e a outros, sobre isto ou aquilo, apenas para passar o tempo entre a paragem e o destino, mas que representam um pouco da vida de cada um e de todos nós.
Que tal comprar o bilhete da carreira. Ela está quase a partir!